sexta-feira, 8 de abril de 2011
Febre de abril
O mês de abril tem folhas secas pelo chão
e na madrugada caminhos de ervas sob
uma lua clara.
Abril tem goiabeiras carregadas
e domingos de ramos. Tem cheiro de incenso
esse mês de azul. E um sábado de aleluia.
Capaz até de surgir um tempo refeito
nesses dias, um pequeno halo nem que seja
uma infância perdida, uma noite insone
o canto de um galo. Mas não.
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
Convite para o almoço
Henri Lebasque - França (1865 - 1937)
Certa vez, quando eu ainda não estava na escola, pelos meus seis anos, fui convidada por uma menina, para almoçar na sua casa. Ela vivia num sobrado amplo e eu era sua herdeira de roupas deixadas de lado. Eram de boa qualidade as roupas. E minha mãe dava graças a Deus pelos presentes.O almoço seria no outro dia. Meu pai era escrupuloso e não me deixava almoçar na casa dos outros. Mas ponderou e consentiu. Chovia, vesti minha capa de chuva azul-marinho, também herança de meus irmãos, e me fui.
Confesso que sou tomada de timidez desde sempre. E são ataques frequentes e severos. Quando cheguei, não percebi sinalização nenhuma que eu almoçaria lá. Fiquei quieta até que ouvi a avó da menina dizer que a esperava à mesa. Despedi-me e desci uma escada que parecia o buraco em que Alice caiu no País das Maravilhas.
Como eu diria em casa o ocorrido? Levaria um castigo. Comecei, então, a andar pelas ruas de Cachoeira. Naquela hora, meus irmãos estavam todos almoçando com o pai e a mãe. E eu na chuva, andando sem parar.
Chuva e chuva.
Voltei depois de uma hora de caminhada. Escondi a capa molhada e respondi à pergunta que me fizeram sobre o almoço. “Havia um prato com carne de galinha”. E não falei mais.
Naquela época, minha mãe só fazia carne de galinha aos domingos.
A vida é estranha. Certo dia, depois do meu passeio sob a chuva, a avó pediu-me que fosse brincar com a menina porque ela estava doente. Lá fui eu. Como não sabia ler, ela pegou um dos livros do Tesouro da Juventude e leu curiosidades pra mim.
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